Schnitzel
Schnitzel sabia eu desde os primórdios da minha aventura na Alemanha que era um Panado em português, um panado com muito óleo. Quando não tenho ninguém a meu lado para me desenrascar e as coisas não estão expostas na montra para que possam ser apontadas com um só dedo, digo Schnitzel, bite! Para acompanhar, e porque quando estou sozinho evito seguir rituais e só como quando tenho realmente fome e, quando tenho essa fome toda estou sempre sem tempo, peço, habitualmente, coke, “couca” se quisermos escrever em português o som que fazemos ao dizer coca, como diminutivo da Coca-cola, em alemão. Bem, naquele dia estava mesmo com muita pressa e, como trazia comigo uns daqueles iogurtes metidos em garrafa de sumo que nem são bem iogurtes mas também não são bem sumos, decidir pedir alguma coisa para comer à pressa. Faltavam apenas 5 minutos para a próxima reunião e ficaria muito mal eu chegar, mais uma vez, atrasado.
Perguntei à senhora se falava inglês. Faço sempre isso. Quando peço de comer prefiro a linguagem oral à gestual. Ela disse-me, como eu já estava à espera, que “não” que dava apenas um toques em “russo”. Como poderão reparar pelas aspas eu apenas entendi “não” e “russo” e, russo, deduzi o resto. Cá para mim ela disse-me que inglês para ela era russo, da mesma forma que alemão para mim é chinês. Muito bem, quando estou por tudo entro na segunda fase do procedimento para garante da sobrevivência da minha espécie: tento apontar algo comestível na montra. Raios!, naquele dia nem queijo me lembrava como se dizia! Se me lembrasse seria fácil, Brot mit queijo bite e teria um pão com queijo por favor. Apontei então para um embrulho que me parecia ter dentro um pão com qualquer coisa, pelo menos o desenho do embrulho indicava isso. E perguntei, claro, o que era aquilo - Conheço apenas um gesto que não precisa de ajudas verbais, o gesto que qualquer pessoa usa para pedir a conta: É só rabiscar no ar em jeitos de quem está a assinar no vazio. Qualquer pessoa entende que com aquele gesto pretendemos “a conta se “faxavor””. Ela olhou o embrulho e disse-me Schnitzel! Eu entendi schnitzel. Numa prateleira de pães é normalíssimo ter sandes de panado, de queijo, de fiambre, e tudo o resto. A minha vida ficou definida a partir dali. Schnitzel com aquela coisa que nem é iogurte nem é sumo e estava arrumado para o resto da tarde. Pedi um schnitzel, eu disse schnitzel!, e decidi saborear o almoço no carro. Estava já em cima da hora para a reunião mas ainda me deu tempo para respirar fundo, afinar as minhas papilas gustativas, meter todas as glândulas a funcionar e…
…E abri o embrulho e pensei que aquilo era uma brincadeira! Dentro dele estava pão ralado! Sim, Pão Ralado! Como não sei cozinhar não associei a princípio e já estava a pensar partir a cara à padeira. Mas não, é com pão ralado e ovo que se fazem os panados. Fiquei ralado com a situação, pois claro está. Como não tive coragem de passar pela vergonha de ir à mesma loja comprar outra coisa que escorregasse melhor na garganta, lá fui para a reunião sem sabor, nem cheiro, a Schnitzel.
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